quinta-feira, novembro 16, 2006

quarta-feira, novembro 15, 2006

Sensação de... ! Um vazio de tempo que ficou por preencher...

As notícias anunciavam um dia pouco propício para sair...
Ventos de 120 kms/h e chuva torrencial para o final do dia.

"A chuva?!
Já faz parte da tradição... "


8:20: "Bom dia! Onde anda a menina?!"
8:22: "... Muito pertoooo... Bom dia!"
8:25: "L... 5 minutes!"

Enquanto eu terminava a chamada ao telemóvel, tu chegaste...
Numa tentativa bem sucedida de não me atropelares, acabaste por bater com a traseira do carro no muro. Sem desligares o carro, saiste cá fora.
"Continuas giro, Gaijo! E com um sorriso grande, apesar dos óculos escuros que te escondem os olhos...", pensei.
... Dois meses depois, eis-nos de volta!

Apenas as roupas mudaram. Eu voltei ao preto do costume, tu aderiste ao casaco.
Eu levei um casaco comprido, o meu favorito. Podia ser Inverno todo o ano, só para o poder usar.
Tu trouxeste umas calças castanhas que te ficam muito bem, com um ar confortável, até ao toque.

(E as mãos que se tocam, os corpos que se acariciam... os lábios que se beijam! As tuas mãos que não páram, mesmo quando à nossa frente existe um muro onde alguém pode muito bem ver o que se passa por debaixo do casaco que tenho ao colo... )
"Anda, quero mostrar-te o café onde costumo ir enquando fico à tua espera... e, preciso de um café!".
"Um lanche?! Isso na minha terra chamasse uma merenda!"
Continuamos com aquela dissonância nos dialetos. É tão giro tentar entender estas coisas...

Sei que o tempo passou depressa, desde que arrancámos, até rodarmos na fechadura a chave 513.
"Uma noite, sem pequeno almoço... Sim, não fumadores!", enquanto me vinha à ideia que, o meu pequeno almoço seria servido por ti, ainda quentinho como tu costumas dizer.
E foi assim que começamos. Desta vez, de igual para igual... Nenhum se descalçou!
Estava frio...
Mas poucos minutos já tu afirmavas ".. está calor! Custa-me a respirar..."
Nem eu sei como conseguiste, durante tanto tempo estar por baixo do lençol...
A manhã passou depressa. Demos por nós fixos à televisão, agarradinhos...
É tão bom estar assim, contigo... Tão bom que, nem me importo de assistir ao festejo de 2 anos do programa do Goucha, ou da entrevista daquele casal de velhotes que faziam 50 anos de casados. Tão bem que ela tricotava, os casaquinhos, as 'meinhas... Eu dizia que tinham todo o ar de serem da tua terra quando afinal eram da minha.
Expliquei-te as
manchas de 'Roche distorcidas naquela música do Gnarls Barkley, o "Crazy" e, como servem de testes de psicanálise, sobretudo para psicopatas, ... (associo sempre esta música a ti, porque na primeira vez que a escutei estavamos em Leiria, e tu adormeceste no meu ombro.. )

13:30... Depois do banho tomado e de tu teres repetido vezes sem conta que estavas esfomeado, mesmo depois de teres comido o chocolate e de teres dito que sabia melhor do que eu... fomos almoçar.

Pelo caminho tu paraste na montra da casa ortopédica. Deves ter ficado fascinado com as pseudo joelheiras que estavam no manequim. Eu pensei que fosse por poderem fazer concorrência ás minhas meias, mas não. Depois da experiência do apoio dos pés na parede, lembraste-te de como poderiam ser úteis para não te mexeres e eu ter todo o trabalho...

O sítio do costume.
O nome do restaurante?! Não sei...
Sei sim que, sempre que lá vamos existe no lado esquerdo um senhor que almoça sozinho e que usa um guardanapo ao pescoço. Está lá sempre...

"Podem ficar naquela mesa, ao lado daqueles senhores... "
"Gaijo, eu não quero ficar ali. Não podemos ficar ali?! Não gosto de ter pessoas desconhecidas na mesma mesa... "
Acabamos quase encostados a uma mesa onde estava um rapaz que mandava mensagens com um ar apaixonadissimo... Mal terminou, foi substituido por um trio de 3 encarregados d'obra. Um deles falava muito alto, enquanto os outros que nada diziam iam esvaziando a bandeja.

"- É um prego no prato, e um bitoque de porco..."

- Já percebi porque é que tu não engordas! Gaijo, tu partes tudo tão pequenino...
- Não percebes nada disto, Gaija! Eu tenho uma técnica. Consoante o que tenho no prato distribuo para ir comendo de tudo um pouco...
- E tu, não comes o ovo, Gaija?!
- Como sim, mas também tenho uma técnica.. eu deixo sempre o melhor para o fim!
Enquanto isso, tu olhavas lá para fora...
Tentei focar-me no que te prendia a atenção. No que te deixava com aquele olhar distante... Avistei o jardim, as árvores, umas em tons de lilás e outras dum verde escuro carregado... As folhas caídas no chão que voavam...
- Em que pensas?!
- Em nada de especial... a sério! Tenho que ir ao multibanco... e podiamos fazer um euromilhões a meias.
Saímos, e tu perdido nos teus pensamentos cantavas muito baixinho "... e cada silêncio, cada gesto que tu faças... Meu amor,
sei-te de cor! ... Deixa-me adivinhar, não digas que o louco sou eu.. Se for tanto melhor... amor, sei-te de cor!"

Chegados ao multibanco, tu reparaste que tinhas deixado o cartão no carro. Eu continuei a andar e, depois dum "Anda!", "Não, anda tu! Já vais buscar o cartão...".. depois de muito insistirmos, desta vez acabaste tu por ceder e vir até mim. Fomos buscar o papelinho do euromilhões e na recepção, fomos preenchendo as colunas com números que de alguma forma tinham a ver connosco... juntinhos, lado a lado na mesa...
E, eu adorei a tua gargalhada quando para estrelas, na quarta coluna eu disse...
"- Ora bem, tu hoje foram.. 1.. 2.. 3.. 4... ...!"
E, corei!!!

No regresso da papelaria, ainda fomos até ao café do Centro Comercial para fazermos contas à nossa vida! Demos por nós a tentar perceber quem tinha mais motivos para ser forreta, e poupar. Acabámos os 2 com o mesmo desabafo sobre quem não é suposto falarmos. Concluimos que, até mais ver o nosso dinheiro é o mais certo e necessário.
Depois, pensámos o que fariamos se nos saísse alguma coisa...
Abririamos um negócio para cada uma das partes, e para nós, ali mesmo, naquela cidade, comprariamos uma casa sem grandes exigências. Um quarto, um colchão, travesseiros, lençóis e cobertor, e uma casa de banho e... tinhamos o "amor e uma cabana!".
Ou então, segundo eu, em vez de regressarmos de 2 em 2 meses, voltariamos todas as semanas... (Tu riste-te e apenas disseste "Se tivermos mais dinheiro, não é para aqui que vimos... ")
De repente, quando nos preparavamos para subir, o teu telemovel vibrou.
Tu atendeste...
Há notícias que valem por si mesmas, e nesse momento soube que estava na hora de regressarmos.
Subimos, ao quarto onde em frente se avista aquela colina onde na última vez passeamos... Olhando para baixo, lá fora o chão parece uma estufa, de vidros.
Eu comecei a arrumar tudo o que deixara espalhado pelo quarto e que, desta vez, me coube numa mala mais pequena do que é habitual. Quis ir-me embora...
Eu sabia, sentia que tu não te estavas a sentir bem... Era mais cedo do que é habitual... 2 horas mais cedo...
Tu insistias que tinhamos 30 minutos ainda... 30 minutos que foram tão bem "esgotados"...
...
..
.

..
... De regresso, ainda de dia, o tempo começara a alterar-se...
O vento soprava com mais força... o dia ficara cinzento.

Somos tão bons nas despedidas, tão rápidos...

Saí com a sensação que faltava algo... algo que ficou, não sei se por dizer, se por fazer.. algo.
Talvez mais um abraço, mais um beijo.. talvez a sesta nos braços um do outro. E sorri...

É bom regressar com o coração apertadinho...
... Ainda a cantar a música que me tinha acompanhado na vinda...


Olha para mim
Diz-me quem tu és
Olha bem para mim
E diz-me quem tu vês
Em mim acendes o desejo
Que deixei para lá do mar

Só eu te posso ajudar
Só eu te posso ajudar
A atingir esse bem estar
Que vem no fim

Diz-me se é amor
Fala-me de ti
Eu quero o teu sabor
Em mim ficou esse teu beijo
Que me deste ao pé do mar

Só eu te posso ajudar
Só eu te posso ajudar
A descobrir esse lugar
P'ra lá do fim
E dizer...
Meu amor, meu amor,
Que bom que é p'ra mim
Meu amor, meu amor
Que bom, que bom que é no fim


Só eu te posso ajudar
- Miguel Ângelo

Sorrio, ao pensar nas coisas que ficam, como esta "cena":
(Eu a olhar para o espelho... )

- Não percebo, o que raio tu vês em mim. Tu nunca me disseste uma única coisa que gostas em mim!
(Aquela do chocolate saber melhor do que eu, tinha-me ficado entalada... )
- E tu deves ser massoquista, só podes...
(Saimos para o almoço... no corredor até ao elevador tentei arrancar-te alguma coisa, sem sucesso!
A porta do elevador fechou-se!)
.
Plim!
- Gaija, eu gosto de ti.. amo-te!
- Não és capaz de me dizer isso, sem os óculos de sol! A olhares-me nos olhos...
(Tiraste os óculos, e sem hesitares deste-me muitos beijinhos, apressados,
enquanto não se tornava a abrir a porta... )
- Gaija, eu gosto de ti.. Amo-te muito!

Plim!
.

No meio duma verdadeira tempestade, regressei.
Apercebi-me que o tempo vai passando e, no meio de algumas outras tempestades, nós continuamos, mais fortes!
Continuam a fazer-me sentido todos estes kilometros que nos separam...

E hoje, num dia em que caiu tanta água do céu, tu tinhas umas asas de ouro, e deixaste-me voar contigo...