terça-feira, agosto 08, 2006



Ele há dias assim..
Acordamos com a sensação que o dia não vai correr muito bem e, acabamos o mesmo com a certeza de que até tinhamos razão.

À medida que as férias se aproximam o nó na garganta cresce.
Eu não sou metódica, mas sou organizada, e talvez seja esse o segredo da minha eficiência.
Todos os dias tenho tarefas a cumprir que, devido à loucura da minha chefe por não saber gerir a sessão onde trabalho, chega ao cúmulo de controlar tudo.
Isto faria algum sentido se ela fosse um exemplo para nós, coisa que não é.

E todos os dias lá vou eu...
Agora, à medida que as férias chegam, faço um esforço para não deixar nada pendente em cima da secretária. Porque, como trabalhamos por objectivos e é por eles que vamos ser avaliadas no final do ano, tudo aquilo que deixarmos será "abatido" no trabalho que nos foi dado e contará como pontos negativos. E é por estes deslizes que ela calmamente aguarda... de cada uma de nós.

No meu caso, eu sou a "alegria-da-casa", como me chamam... ou o "raio-de-sol"!
Normalmente não ligo ao que se passa e, brinco com as situações que vão acontecendo durante o dia e com o dia-a-dia de cada uma de nós. Acima de tudo, brinco comigo e sobre mim!
Falo alto, rio-me alto e não dispenso o rádio ligado na Comercial, na Antena 3 ou na Mega FM...

Mas as horas passam, e a vida não é tão supérfula como as brincadeiras...
Existem dias em que não me consigo encaixar nas conversas de mal dizer das colegas, no deitar abaixo permanente da chefe. Ainda não consegui compreender se é por convicção, por acreditar que somos mesmo uns zeros à esquerda ou se decidiu colocar em prática a teoria que rendemos mais se estivermos chateadas. Ela pensa que esse mal estar vai ser convertido em produtividade, porque queremos que o dia passe depressa e nem nos vai apetecer falar. Vamos estar mais "focadas"!
Aos poucos, dia após dia as situações de conflito foram surgindo, algumas chegaram ao limite e, hoje está instalado um clima em que poucas são as que se dirigem à senhora.

E eu com esta minha forma de estar, vou tendo cada vez menos paciência e, vou respondendo ao mesmo nível, nem num tom abaixo nem num tom acima, fazendo com que os comentários façam ricochete e voltem ao destinatário. E rio-me, olhando cada vez mais de lado...
Apesar disto, consigo ser a única com o trabalho em dia e com quem não consegue ter com que pegar.

Mas hoje, eu não estive bem. Não acordei bem. E estive sempre com a sensibilidade à flôr da pele. Chegada ao trabalho, começaram as desgraças...
Uma colega, pede-me um bolo quando fôr ao pequeno almoço porque a chefe já lhe tinha dito que, não compreendia o que ela estava ali a fazer. Para não dar azo a mais conversas decide ficar e, nem sair. Com as lágrimas nos olhos, pede-me o croissant quando estou para descer no elevador. Eu digo uma das minhas larachas e, faço-lhe uma festinha no rosto. E dou por mim a pensar, que esta é de todas a fulana mais ardilosa, mais conflituosa... Como é que deixou que isto chegasse a este ponto...
A outra que chegou ontem de férias está de rastos. O "marido" está com uma infecção nas pernas e passou todo este período fechado em casa. Hoje lá tinha ido ao médico obrigado, e estava apático com a resposta que ".. mais uma semana e amputava-lhe a perna! Já o fiz por menos!". E eu lá desembochei conselhos e mais conselhos, de que, o que é necessário é repouso e algum cuidado com a alimentação, que o calor não é um bom amigo... e por aí fora.
Sento-me finalmente na minha mesa. Computador inicializado, password aceite e, começa a minha colega "o que é que ela disse?!", "cheguei e não estava cá ninguém.. só chegaram ás 9:30...", "não achas que é muito dinheiro para a prenda...?!", "aquilo da perna é desculpa! Vais ver que está a arranjar desculpa para meter baixa... as férias não lhe chegaram! É sempre a mesma coisa!"...
De repente, levanto-me e vou à casa de banho encher uma garrafa para regar as minhas plantinhas. E deixo tudo entregue a si mesmo...
Lá dentro a chefe nem se ouve... (.. ainda não deu pela minha chegada!)

Ligo o rádio!
E ouvesse um berro de "... já à dona!". Como sempre, não vou! E como sempre dá uma das gargalhadas insuportáveis. Lá me chama pelo nome e, sem vontade, lá me arrasto. Mais meia hora de conversa da treta. Do tempo da minha terra que hoje estava bom pros asmáticos, dos cães que sufocam com o calor na cozinha e, no meio da conversa que já ia no hemorroidal do marido, sou salva pela minha conferente que, como sempre consegue chegar mais tarde do que eu.
O telefone toca lá dentro. Não é o meu, mas descarto-me. Já falam nos pássaros que lhes penicam as árvores de fruta nos quintais.
Finalmente o trabalho...

Meio dia! Hoje não tenho que assegurar! Apetece-me arejar... fazer qualquer coisa para mim.
Nem mais, vou arranjar as unhas... sabe-me sempre bem as massagens nas mãos. E depois, vou andar... caminhar.. passear... sozinha com o meu mp3 player, como eu gosto.

Chegada ao trabalho envio umas sms porque me faz falta um bom dia de alguém, que hoje não li... Como não obtenho resposta e porque hoje era suposto termos estado juntos, envio outro sms onde brinco com isto.. e mesmo assim, nada.
Acabo por receber outros, de pessoas que menos me dizem e me fazem ponderar no custo das minhas mensagens de resposta. Valerá a pena responder?! Mais valia ir beber um café.
E lá estou eu a produzir... tudo em função da estatística da Secção.
A colega da frente regressa do almoço com olhos de choro. O marido que está a trabalhar na Madeira a montar elevadores, acabou de se despedir. Em vez do regresso para férias na segunda feira, regressa definitivamente, sem dinheiro e cheio de divídas, que acabam por ser as dela também. O que é que se responde a isto, quando para mim ele andou este tempo todo a montar tudo menos elevadores?!
Saí um, talvez seja melhor assim... ele é desenrascado, vais ver que arranja trabalho depressa... com ele por cá, vais ver que as coisas vão correr melhor... (Consigo convençe-la mais a ela, do que a mim!).

Cinco horas. Tu ligas-me, afinal!
O meu coração parece que recebeu uma lufada de ar e, apetece-me aproveitar ao máximo todos os minutos da chamada. Não te quero cobrar nada, muito menos depois de saber que estás cheio de sono, porque tiveste que ir ao trabalho durante a noite e que o dia foi versão non-stop, apenas com pausa para o almoço.
E apetece-me escutar-te... Cada vez que falo, tu não me ouves e tenho que gritar. Já a colega da frente se ri e comenta. Depois, são os meus brincos. Os brincos tu ouves, quando na realidade nem lhes estou a tocar. Mas isto faz-me rir... e sabe-me bem, o final de tarde a terminar com a tua voz.
Antes de sair, vou comunicar à chefe que amanhã venho mais tarde. Até lhe digo o porquê. O carro chumbou na inspecção. Tenho que ir com ele à oficina e depois, aproveito, e vou novamente à inspecção. Responde-me a única coisa que não me devia ter respondido...
"Não, não pode! É como nas vezes em que vai com a sua mãe ao médico e perde o dia todo?!".
Olho para ela e, ela deixa transparecer no olhar "já disse o que não devia!".
Pergunto-lhe se como toda a gente naquele serviço, se tiver minutos de dispensa por gozar se não o posso fazer. Diz-me que não, só com a autorização dela e que para tal, tinha que lhe pedir, e de joelhos. E risse.
As lágrimas veem-me aos olhos e, quando vou a meio da porta, volto para trás e digo, olhando-a olhos nos olhos "Sabe, com a minha mãe não... !". Ela fica muito séria, desce à terra e ainda responde "Eu estava a brincar..", mas já nem volto atrás. E tenho um nó na garganta tão grande, e as lágrimas prestes a cairem...
A minha conferente que, na sala ao lado escutou a conversa, apercebesse e entra na sala, tentando desanuviar.
Saio... Pico a saída do cartão. Apanho o comboio... aproveito a janela e choro, aquilo que por educação, por não ser conflituosa acabei por não responder...
....
23:00, vou ao gmail. Tu pedes-me autorização para acabar com os nossos mundos, no Ogame. Foram invadidos e perdeste semanas de dedicação... A minha resposta imediata é "Não!".
Mas depois, acho que não o devo fazer. Se me pediste é porque este era o teu desejo, e o trabalho tem sido todo teu. E quem sou eu... eu nada tenho feito!
Mas, para mim aquilo é muito mais que um jogo... é algo nosso! É algo real, que é dos dois!
Se aquilo deixa de existir, é algo que desaparece, ainda por mais, porque tu assim o quiseste.
E depois do dia de hoje, em que me sinto frágil, cansada, de rastos, sei que não sou boa companhia!
Apetece-me ir dormir para o lado do meu filho. Isto sim, faz-me recarregar baterias, faz-me voltar a mim e voltar ao normal! Não há como driblar este papel, o de mãe. Este que é realmente meu e que é tudo para mim...
... Todos os outros, existem e nem fazem a menor ideia da importância que têm.
É que, debaixo deste ar de quem aguenta tudo e está sempre bem... eu sou mais frágil do que pareço.

Mas, entretanto, hoje o meu filho está com pesadelos. Comeu super bem e adormeceu pouco depois. E agora está com pesadelos.
De tanto colo, acabei por despertar. Vim até aqui e, tu não me desejaste uma boa noite, e eu nem sei que mal te fiz...

Há que voltar para a cama, e virar a almofada para o lado dos sonhos bons! É isso...
... E amanhã...
... Amanhã, vai ser um novo dia!